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Videogames estimulam a Cognição, enquanto exercícios físicos fortalecem a Saúde Mental


Resumo:

Um grande estudo com mais de 1000 participantes descobriu que jogar videogames melhora as habilidades cognitivas, mas não afeta a saúde mental. Por outro lado, a prática de exercícios físicos aumentou o bem-estar mental, sem impacto na cognição. Os resultados indicam que jogadores frequentes apresentaram habilidades cognitivas comparáveis às de pessoas 13 anos mais jovens, enquanto aqueles que seguiram as diretrizes de exercícios da OMS relataram menos ansiedade e depressão. Esse estudo destaca as diferentes formas como videogames e exercícios influenciam a saúde do cérebro e o bem-estar.


Nas últimas décadas, pesquisas em medicina preventiva têm se concentrado em como fatores do estilo de vida, como exercícios físicos e videogames, podem impactar a saúde cognitiva e mental. 


Esses dois hábitos são frequentemente apontados como formas de melhorar o funcionamento cognitivo, que envolve habilidades como memória, resolução de problemas e comunicação, além de proteger essas capacidades contra o envelhecimento.


Há também evidências sugerindo que tanto a atividade física quanto os videogames podem melhorar a saúde mental, reduzindo sintomas de depressão e ansiedade. Por isso, essas práticas são muitas vezes recomendadas para pessoas mais velhas, já que a idade é o principal fator de risco para demência, e intervenções precoces podem ajudar a retardar a progressão de doenças neurodegenerativas.

Com o aumento desse interesse, surgiram muitos produtos e programas que prometem manter ou melhorar a função cerebral, criando uma necessidade urgente de entender claramente como essas atividades realmente afetam a saúde cerebral para guiar políticas de saúde e intervenções eficazes.


Embora muitos estudos indiquem uma relação entre exercícios físicos, cognição e saúde mental, ainda não há consenso claro. A Organização Mundial da Saúde (OMS), por exemplo, recomenda exercícios físicos regulares como benéficos para a cognição, mas revisões mais recentes sugerem que as evidências dessa ligação não são tão robustas quando se consideram falhas metodológicas em muitos estudos.


Da mesma forma, a pesquisa sobre a relação entre videogames e função cerebral também apresenta resultados mistos. Enquanto jogos simples de "treinamento cerebral" não parecem ter um impacto mensurável além das tarefas específicas treinadas, videogames mais complexos e envolventes podem melhorar algumas habilidades cognitivas e perceptuais com prática contínua, mas esses resultados são geralmente observados em adultos jovens e podem não se aplicar a populações mais velhas.


Para abordar algumas das questões pendentes neste campo, pesquisadores canadenses da Western University incluindo o renomado neurocientista Dr. Adrian Owen, realizaram um estudo internacional online sobre as relações entre atividade física, jogos de videogame, cognição e saúde mental em adultos mais jovens, de meia-idade e mais velhos. 


O estudo recrutou 1.412 voluntários através de mídias sociais, rádio, notícias e indicações, que participaram preenchendo questionários sobre dados demográficos, saúde mental e física, além de realizarem testes cognitivos online através da plataforma Creyos (anteriormente Cambridge Brain Sciences).


A bateria de testes Creyos consiste em 12 tarefas que medem habilidades cognitivas como memória, raciocínio, velocidade de processamento e habilidades verbais.


A pesquisa investigou a hipótese de que tanto exercícios físicos quanto videogames estariam relacionados à cognição e/ou saúde mental, com a natureza desses benefícios variando conforme a fase da vida em que ocorrem.


Para medir o uso de videogames, foi utilizado o Questionário Bavelier Lab, onde os participantes estimaram o tempo médio gasto jogando videogames em diferentes gêneros ao longo do último ano. Com base nesse tempo, os participantes foram classificados como não jogadores (0 horas por semana), jogadores pouco frequentes (menos de 3 horas por semana) ou jogadores frequentes (mais de 3 horas por semana).


O desempenho cognitivo foi avaliado através das 12 tarefas da Creyos, que já foi utilizada em estudos de larga escala para analisar o impacto de fatores como sono, COVID-19 e hábitos de vida sobre a cognição. 

Já a atividade física foi medida pelo Physical Activity Adult Questionnaire (PAAQ), que estima o número de minutos de atividade física moderada a vigorosa (MVPA) realizados na última semana. Com base nisso, os participantes foram classificados conforme atingissem ou não as diretrizes da OMS, que recomendam pelo menos 150 minutos de atividade física por semana.


A saúde mental foi avaliada pelos rastreadores GAD-2 e PHQ-2, que medem sintomas de ansiedade e depressão, respectivamente. O GAD-2 foi utilizado para identificar transtorno de ansiedade generalizada, enquanto o PHQ-2 avaliou depressão maior, com ambos demonstrando alta sensibilidade e especificidade para essas condições.


Os resultados mostraram que os videogames melhoraram a cognição, mas não afetaram a saúde mental. Jogadores frequentes (5 ou mais horas por semana) tiveram desempenho cognitivo equivalente a pessoas 13,7 anos mais jovens. Já os jogadores ocasionais apresentaram um desempenho equivalente a pessoas 5,2 anos mais jovens. 


Por outro lado, os participantes que cumpriram as diretrizes da OMS para atividade física tiveram maior probabilidade de relatar ausência de sintomas de depressão (12%) e ansiedade (9%), mas sem impacto significativo na cognição.


A pesquisa também indicou que a maior diferença na saúde mental foi observada em indivíduos com sintomas leves ou ausentes de ansiedade e depressão, sugerindo que a atividade física regular é mais eficaz na prevenção do agravamento desses sintomas do que em casos severos. 


Esses resultados ampliam a compreensão sobre como o estilo de vida impacta a saúde cerebral a longo prazo, destacando os efeitos diferenciados dos exercícios e dos videogames no cérebro.


Em resumo, o estudo conclui que tanto os videogames quanto os exercícios físicos têm efeitos específicos e distintos sobre o cérebro, permitindo que as pessoas adaptem suas escolhas de estilo de vida para promover a saúde mental e cognitiva de forma eficaz ao longo da vida.



LEIA MAIS:


Characterizing the Cognitive and Mental Health Benefits of Exercise and Video Game Playing: The Brain and Body Study.

Wild CL, Paleczny SG, Xue A, Highfield R, and Owen AM.

PsyArXiv. October 18, 2024. https://doi.org/10.31234/osf.io/hdj9r


Abstract:


Two of the most actively studied modifiable lifestyle factors, exercise and video gaming, are regularly touted as easy and effective ways to enhance brain function and/or protect it from age-related decline. However, some critical lingering questions and methodological inconsistencies leave it unclear what aspects of brain health are affected by exercise and video gaming, if any at all. In a global online study of over 1000 people, we collected data about participants' physical activity levels, time spent playing video games, mental health, and cognitive performance using tests of short-term memory, verbal abilities, and reasoning skills from the Creyos battery. The amount of regular physical activity was not significantly related to any measure of cognitive performance; however, more physical activity was associated with better mental health as indexed using the PHQ-2 and GAD-2 screeners for depression and anxiety. Conversely, we found that more time spent playing video games was associated with better cognitive performance but was unrelated to mental health. We conclude that exercise and video gaming have differential effects on the brain, which may help individuals tailor their lifestyle choices to promote mental and cognitive health, respectively, across the lifespan.


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© 2024 by Lidiane Garcia

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