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Saúde Mental Completa é Realidade: 1 Em Cada 4 Pessoas Com Transtorno Bipolar Atinge Bem-Estar Total


Este estudo analisou a saúde mental completa (SMC) como um indicador mais amplo de bem-estar, incluindo fatores como felicidade, suporte social e ausência de outros transtornos psiquiátricos. Ao todo, 23% dos indivíduos com transtorno bipolar atingiram a SMC, sendo mais comuns entre pessoas mais velhas, casadas e sem dependência química. Os achados reforçam a importância de abordagens que considerem não apenas a estabilização do humor, mas também o bem-estar geral dos pacientes.


O transtorno bipolar, anteriormente chamado de transtorno maníaco-depressivo, é um distúrbio mental crônico e grave que afeta cerca de 40 milhões de pessoas no mundo.


Ele se caracteriza por oscilações extremas no humor, que vão desde episódios de mania, marcados por euforia, energia excessiva e impulsividade, até períodos de depressão profunda, com tristeza intensa, baixa energia e dificuldades para realizar atividades do dia a dia. 


Além dessas variações de humor, o transtorno bipolar frequentemente ocorre junto com outros problemas psiquiátricos, como ansiedade, dependência de substâncias e transtornos de personalidade. 


Estima-se que entre 50% e 70% dos pacientes tenham essas condições associadas, aumentando ainda mais os desafios do tratamento. O impacto da doença não se restringe à saúde emocional e mental; ela também traz um grande ônus financeiro, com custos médicos diretos variando entre US$ 8.000 e US$ 14.000 por pessoa a cada ano, além de gastos indiretos que podem chegar a US$ 11.000 anuais. 

Apesar de ser uma condição de longo prazo, o transtorno bipolar tem taxas promissoras de remissão. Estudos indicam que quase todos os pacientes com um primeiro episódio da doença deixam de preencher os critérios diagnósticos em até dois anos. 


Além da melhora nos sintomas de mania e depressão, fatores como redução da ansiedade, recuperação da autoestima e melhora da qualidade de vida são importantes para medir a recuperação. 


Alguns grupos de pacientes apresentam maior chance de se recuperar, incluindo mulheres, pessoas casadas, indivíduos com boa saúde física, status socioeconômico elevado e aqueles sem histórico de outros transtornos mentais ou dependência química. 


Além disso, aqueles que receberam o diagnóstico há menos tempo, tiveram menos episódios e hospitalizações, e não sofreram psicose apresentam maior probabilidade de retomarem um bom funcionamento na vida diária. 


Em contrapartida, indivíduos com histórico de abuso na infância, psicose ou uso de antidepressivos podem ter mais dificuldades para alcançar a remissão.


Traumas na infância, como abuso e negligência, podem afetar o desenvolvimento do cérebro, causando alterações em sistemas neurais responsáveis pelo controle do humor e do pensamento, o que pode aumentar o risco de transtorno bipolar e dificultar a recuperação.

Embora a remissão dos sintomas seja um passo fundamental, especialistas vêm defendendo uma abordagem mais ampla para a recuperação do transtorno bipolar. Como os pacientes também podem enfrentar desafios como risco de suicídio, ansiedade e dependência química, a recuperação não deve ser vista apenas como a ausência de sintomas bipolares. 


O conceito de "saúde mental completa" (SMC) tem sido explorado como uma forma mais abrangente de medir o bem-estar desses indivíduos. A SMC não avalia apenas a presença ou ausência de transtornos mentais, mas também fatores positivos, como felicidade, satisfação com a vida e bem-estar psicológico e social. 


Para se encaixar nesse critério, a pessoa deve estar livre de transtornos mentais no último ano, sem uso problemático de substâncias e sem ideação suicida, além de relatar sentimentos frequentes de felicidade e realização pessoal.


No entanto, poucas pesquisas investigaram como o transtorno bipolar se relaciona com a saúde mental completa, evidenciando uma lacuna no entendimento da recuperação dessa condição.


Estudos anteriores analisaram a prevalência da saúde mental completa em indivíduos com histórico de depressão maior e descobriram que 39% dessas pessoas atendiam aos critérios para esse estado de bem-estar. 


Os fatores associados à saúde mental completa incluem ser mulher, ter renda mais alta, estar casado, ter um bom círculo de apoio social, praticar atividade física e utilizar a religiosidade como estratégia de enfrentamento.


Em contrapartida, indivíduos que sofreram abuso na infância, possuem transtornos de ansiedade, dependência química ou insônia têm menos chances de alcançar esse nível de recuperação. 

O presente estudo busca preencher essa lacuna ao examinar a recuperação do transtorno bipolar sob a perspectiva da saúde mental completa, utilizando uma grande amostra representativa da população canadense.


O objetivo é investigar três níveis de recuperação: (1) remissão do transtorno bipolar, ou seja, não preencher mais os critérios diagnósticos; (2) ausência de transtornos psiquiátricos, como ansiedade e dependência química; e (3) saúde mental completa, incluindo bem-estar emocional e social.


A pesquisa analisou dados da Pesquisa de Saúde Comunitária Canadense de 2012, focando em uma amostra de 555 adultos com transtorno bipolar. Foram utilizadas análises estatísticas para identificar fatores associados à recuperação. 

Os resultados mostraram que apenas 23% dos indivíduos com transtorno bipolar alcançaram a saúde mental completa, um número significativamente menor do que os 74% da população sem transtorno bipolar.


Entre os fatores que favoreceram a saúde mental completa estavam idade mais avançada, renda mais alta, ser casado, ter um bom suporte social e não ter histórico de dependência química ou dor crônica debilitante.


No entanto, algumas limitações do estudo devem ser consideradas, como a ausência de informações sobre certos transtornos mentais, a exclusão de pacientes hospitalizados e possíveis respostas tendenciosas por desejabilidade social.


Apesar dessas limitações, o estudo traz contribuições valiosas para a compreensão do transtorno bipolar e sua recuperação. Ao identificar os fatores que promovem a saúde mental completa nessa população, a pesquisa ajuda a direcionar estratégias de tratamento que vão além da simples remissão dos sintomas, considerando também a qualidade de vida e o bem-estar emocional dos pacientes.


Isso pode contribuir para intervenções mais eficazes e um melhor suporte para aqueles que vivem com essa condição.



LEIA MAIS:


The continuum of recovery among Canadians with bipolar disorder: From remission to complete mental health

Melanie J. Katz, Ishnaa Gulati, and Esme Fuller-Thomson

Journal of Affective Disorders Reports, Volume 17, July 2024, 100808


Abstract:


Research on recovery from bipolar disorder focuses primarily on symptom remission and diagnostic criteria. Less attention, however, has been paid to other aspects of mental well-being and psychosocial functioning. The current study examines the prevalence of, and factors associated with, recovery from bipolar disorder through three levels: (1) remission from bipolar disorder; (2) the absence of psychiatric disorders (APD); and (3) complete mental health (CMH), which incorporates measures of happiness, life satisfaction, psychological flourishing, and absence of mental illness. Data were drawn from the 2012 Canadian Community Health Survey-Mental Health. A subsample of 555 adults with bipolar disorder was analyzed using bivariate chi-square analyses and multivariate logistic regression models. Approximately 1 in 4 (23 %) participants with bipolar disorder achieved CMH, which was significantly lower than the 74 % of those without bipolar disorder who were in CMH. Factors associated with CMH among individuals with bipolar disorder included older age, higher household income, being married, having a confidant, utilizing religion or spirituality for coping, and being free from substance abuse or dependence and debilitating chronic pain. Absence of data on certain mental disorders, exclusion of hospitalized or unresponsive participants, and social desirability, may have biased the results. By identifying factors associated with CMH among those with bipolar disorder, this study provides insight into recovery from bipolar disorder beyond symptom remission, highlights subpopulations who may be at heightened risk of further adverse mental health outcomes, and helps inform interventions that support recovery for individuals affected by bipolar disorder.

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