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Estudo de 6 Anos Mostra: Antidepressivos Podem Aumentar o Peso Corporal


O uso prolongado de antidepressivos pode levar ao ganho de peso e aumentar o risco de obesidade. Um estudo na Espanha acompanhou adultos por seis anos e descobriu que quem usou esses medicamentos de forma contínua ganhou mais peso e teve o dobro de chance de se tornar obeso. Mesmo quem começou ou parou o tratamento apresentou algum aumento de peso. Os pesquisadores alertam para a importância de monitorar a saúde durante o uso de antidepressivos e adotar estratégias para reduzir esses efeitos.


A depressão é o transtorno psiquiátrico mais comum no mundo, afetando cerca de 280 milhões de pessoas. Estudos indicam que aproximadamente 5% da população adulta sofre com a doença, sendo que as mulheres têm quase o dobro de probabilidade de desenvolvê-la em comparação aos homens. 


A depressão pode ser extremamente debilitante e está entre as principais causas de incapacidade no mundo. O tratamento mais utilizado para esse transtorno inclui terapias psicológicas e o uso de medicamentos antidepressivos, que são amplamente prescritos globalmente. 


O tempo de uso desses medicamentos pode variar de um ano até toda a vida, dependendo da necessidade do paciente. Dados de estudos internacionais mostram que o uso de antidepressivos tem aumentado significativamente ao longo dos anos, sendo mais comum entre mulheres.

Apesar dos avanços no desenvolvimento de medicamentos antidepressivos, todos eles podem causar efeitos colaterais. Os mais relatados incluem insônia, sonolência, tontura, inquietação, sudorese excessiva, alterações no sistema digestivo, problemas sexuais e, principalmente, mudanças no peso corporal.


O ganho de peso, em particular, tem sido apontado como um dos principais motivos para a interrupção do tratamento por parte dos pacientes.


A obesidade é um problema global que afeta aproximadamente 650 milhões de pessoas e está associada a diversas complicações de saúde. Pesquisas sugerem que há uma relação de mão dupla entre obesidade e depressão: pessoas obesas apresentam maior risco de desenvolver depressão, e indivíduos com depressão têm maior probabilidade de ganhar peso e se tornarem obesos. 


Vários fatores biológicos podem explicar essa conexão, incluindo predisposição genética, alterações hormonais e no metabolismo, além da influência do uso de antidepressivos. 


Alguns desses medicamentos podem causar aumento de peso como efeito colateral, embora isso varie de acordo com a classe do antidepressivo. Por exemplo, alguns inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS) e antidepressivos tricíclicos (ATC) estão associados ao ganho de peso, enquanto outros, como a bupropiona, podem até contribuir para a perda de peso.  

Entretanto, a maioria dos estudos disponíveis avalia apenas os efeitos de curto prazo, e ainda há poucas pesquisas que analisam o impacto do uso prolongado de antidepressivos no peso ao longo dos anos.


Para investigar essa questão, um estudo foi realizado na Espanha com mais de 3.000 adultos (1.701 mulheres) de meia-idade (média 55 anos), acompanhando seu uso de antidepressivos e mudanças no peso ao longo de seis anos. 


Os participantes foram divididos em quatro grupos: 


  1. Aqueles que nunca usaram antidepressivos

  2. Os que começaram a usar durante o período de acompanhamento

  3. Os que interromperam o uso 

  4. Os que utilizaram continuamente nos dois momentos avaliados


Os resultados mostraram que todas as categorias associadas ao uso de antidepressivos apresentaram maior ganho de peso em comparação aos que nunca usaram esses medicamentos. O aumento médio foi de 1% do peso corporal ao longo de seis anos, sendo que cerca de um quarto dos participantes ganhou mais de 5% do peso inicial. 

Além disso, indivíduos que usaram antidepressivos de forma contínua ao longo dos seis anos apresentaram um risco duas vezes maior de se tornarem obesos em comparação aos que nunca usaram. Já os que iniciaram ou interromperam o uso tiveram aumento de peso, mas sem associação estatisticamente significativa com o desenvolvimento de obesidade.


Esses achados reforçam a importância do monitoramento do peso e da saúde metabólica durante o tratamento com antidepressivos. Diante da crescente prevalência da obesidade e do uso generalizado desses medicamentos, é essencial que os profissionais de saúde incluam estratégias de controle de peso nas diretrizes de acompanhamento de pacientes com depressão. 


Isso pode envolver mudanças na dieta, incentivo à prática de atividades físicas e a escolha de antidepressivos com menor impacto no peso corporal, sempre considerando as necessidades individuais de cada paciente.



LEIA MAIS:


Trajectories of antidepressant use and 6-year change in body weight: a prospective population-based cohort study

Camille Lassale, Gabriela Lugon, Álvaro Hernáez, Philipp Frank, Jaume Marrugat, Rafael Ramos, Josep Garre-Olmo and Roberto Elosua

Frontiers in Psychiatry. Volume 15 - 2024. 22 November 2024 

DOI: 10.3389/fpsyt.2024.1464898


Abstract:


Antidepressant drug treatment may be associated with weight gain, but long-term studies are lacking. We included 3,127 adults (1,701 women) from the REGICOR study, aged 55.6 (SD = 11.6) years on average in 2003–2006, living in the northeast of Spain. They had data at two time points (baseline and a median of 6.3 years later) on self-reported antidepressant use, body weight and height, and on baseline smoking, physical activity, diet quality, education, civil status, and depressive symptoms assessed with the Patient Health Questionnaire (PHQ-9) at follow-up. We defined four trajectories of antidepressant use as follows: never use, new use at follow-up, initial use discontinued, repeated use at both time points. We used multivariable linear models to estimate the association of these trajectories with the percentage of weight change. In people without obesity at baseline (n = 2,404), we also estimated the association with obesity incidence at follow-up. The average 6-year weight gain was 0.53 kg (1.01% body weight), and 24.5% of the participants gained >5% of body weight. The majority (83.6%) of participants did not report any use of antidepressants, 6.2% initiated during follow-up, 5.1% discontinued it, and 5.1% reported their use at both time points. In multivariable analyses, compared to never users, all trajectories were associated with greater weight gain: +1.78% (0.57, 2.98) for initial use discontinued, +2.08% (0.97, 3.19) for new use at follow-up, and +1.98% (95% CI: 0.75, 3.20) for repeated use. In non-obese participants at baseline (n = 2,404), the odds ratio for becoming obese was 2.06 (1.03, 3.96) for repeated use and non-statistically significant for the other trajectories. In a population-based adult cohort, repeated use of antidepressants was strongly associated with weight gain. New and discontinued use was associated with weight gain, but non-significantly to obesity incidence. Given the global obesity epidemic and the widespread use of antidepressants, weight management and metabolic monitoring should be encouraged and integrated into depression follow-up guidelines alongside antidepressant prescriptions.


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